11 de julho de 2007

It's very nice pra xuxu.

No silêncio alguns pensamentos em voga. Maldito povinho.

Na rua de madrugada num frio de trincar os tornozelos escuto o apito do segurança - desses que fazem ronda nas ruas, aqui na conexão cidade baixa-menino deus tá cheio dos tais guardinhas. Meu amigo comenta sobre o quão foda é o trampo do cara que na rua apita. Realmente, madrugada, frio e em pé na via não seria lá meu programa, digo trabalho, favorito. Mas isso a partir da minha perspectiva. Quando pensei nessa condição, na perspectiva, um plim! Maldito povinho.

Lembrei de pequeno, de quando vivia no lado bom do Menino Deus. Na Getulio, da Ipiranga pra lá. Uma tia, madrinha, bizavó, sei lá o que era, mas sei do que me perguntou durante o almoço. Aqueles de domingo com toda a parentada - na verdade diante da sobremesa, me questionou sobre o futuro. A senhora me olhou e com o talento que só aquela parente que te vê uma vez ao ano tem de te constranger perante a todos, arregalando os olhos, fazendo com que eles triplicassem de tamanho por detrás das lentes mandou a clássica: - Olha o Carlinhos, cresceu. Já é um moço, quase um homem, tá bonito... Larga minhas bochechas, queria ter dito mas continuei calado e ouvindo. Tem namorada na escola? Puts, ela tinha dito namorada e pra piorar completou com escola. E tudo isso na mesma frase. Nessa época, com menos de dez anos, tudo as duas palavras que eu mais odiava somadas a "Inter" eram exatamente essas. Namorada e escola. Como de esperado não tinha a tal "novia" e apesar da resposta, não satisfeita, ela continua. E quando crescer vai ser o que? Já tem de pensar no futuro pressionou a velha. Nessa hora, quando escutei crescer e futuro, pensei; jogador de futebol, policial, bombeiro, piloto... Não, nada de piloto, era motorista. Isso mesmo, motorista de avião. Dividi, confidenciei meus planos e ela sorriu, ironicamente me olhou e riu. Bom, suspirando disse ela. Se fores militar, no caso bombeiro ou policial, que seja oficial, se deus quiser ainda rogou ignorando absolutamente as duas outras opções. Maldito povinho rogo eu.

To na rua e vejo um cara trabalhando de segurança. Pega mal, é feio. Até sofremos por ele. Ninguém quando criança sonha com isso. Não é o orgulho do pai, não estufa o peito quando fala da sua profissão. Um absurdo, porque não? O cidadão não pode ser feliz no anonimato? Pra que a necessidade de aparecer? O guri não pode ter o sonho em ser policial? Não quer ser coronel, não pensa no status, estrelas, tapinhas nas costas. Nada disso, ele quer é prender ladrão, apontar a arma e gritar P-O-L-Í-C-I-A, e sem se esquecer do clássico "você tem o direito de ficar calado... O sonho de super herói. Não pensa em mercedes, nessa hora não sonha com as siliconadas, é ele e o sonho, só.

Chego na festa e lá está ela. A moça mais produzida e os paspalhos que a rodeiam. Pozuda, de família, essas com sobrenome cheio de consoantes. Olho e me aproximo, puxo assunto. Iniciei me esforçando pra romper a impressão arrogante que transparece. Pra surpresa geral ela não ignora, corresponde e dentre outras coisas me pergunta o que faço. Garçom, respondo. Mas já fiz de tudo, faxina, pedreiro... E quando pra muitos ali terminaria minha saga, contrariando o provável, pra surpresa geral ela me dá bolas. Me dá moral. Nada de mais, normal. Apesar de garçom, vigilante ou faxineiro, sou bacana, sou legal. Trabalho sim, sou gente simples mas não aqui Zé Mané. A faxina é em LONDRES. Ahhhh bom, tudo explicado. NICE, very nice diria o Borat. Maldito povinho.