1 de maio de 2008

Aonde estão, ninguém as vê.

1999, era quinta-feira. Quinta e cedo, bem cedo. Saio das cobertas, com frio e ainda zonzo visto minha calça de abrigo cinza. Combino com o moleton da mesma cor, escovo os dentes, lavo o rosto e caminhando saio rumo ao colégio. Tempos bons, segundo ano. O mais divertido. Na porta da escola a irmã Silvia com o sininho recepciona os alunos. Todo dia era a mesma coisa. Despertador, uniforme, sininho da irmã Silvia e aula.

Na quarta feira anterior a cidade tava estranha, diferente. O clima era outro, e não por conta do El Niño. Era dia de jogo, dos grandes, dos decisivos. O revanchismo estava no ar, era esse o sentimento dos sei lá, arredondando generosamente por cima, dos 35% da cidade. Na aula alguns colegas planejavam cada detalhe daquela futura desforra. Comprariam sinalizadores no Bazar Bahia. Pintariam os rostos, e entusiasmados com suas bandeiras, de Kombi com o pai do Hernan, iriam pro jogo.

De volta. Quinta, fardado pra escola desci do prédio. Nem lembrava da histórica noite anterior. Na calçada da Getúlio vejo uma bandeira. Era simples, dessas de plástico mesmo. Mas me fez lembrar. Agarrei-a e pendurei na mochila. Deus, era certo. Eles iam pra final da Copa do Brasil, pra Libertadores. Pra Tóquio!!! Não foram. Juventude 1, 2, 3 e quatro. E num Beira Rio lotado. Que diversão. Poucas vezes a ida pra aula foi tão boa, poucas. Cheguei atrasado. Na porta, tava lá, como sempre a irmã Silvia com seu sininho. Entrei e subi direto, tava ansioso. Na aula vi eles. Num canto, isolados. Abatidos, como se formassem uma seita, organizados no grupinho fechado. Passaram semanas assim. Não se misturavam com os demais. Tiaguinho, Robinson, São Judas, Leco, Fernandinho e mais uma, a Luciane. A única triste, a única menina na tribo dos fracassados. A única que sentiu na pele, tinha ido ao jogo. A única. Os tempos eram outros.

Já agora, vejam só. No MSN, os nicks, os mais apaixonados são delas. "Vamo meu Inter", isso mesmo, na cara dura chamam de "meu" . Outras mandam o bordão "nada vai nos separar" e algumas ainda ousam cornetear o tricolor. Ora gurias, me digam. Aonde estavam na eliminação pro Londrina? Ceará, América Mineiro, Remo, Fortaleza, Juventude... Onde se escondiam dos frangos do Goycochea e dos gols contra do zagueiro Marcão? Das trapalhadas do Zachia e das dívidas do finado Amoretti?? Jogaram aonde as camisas antigas? Umbro, Rhummel, Adidas, Topper. Cadê???? Sério, colorada só a Luciane. Só conheci essa.

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